segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Eu vou deixar que morra em mim
O desejo de amar teus olhos que são doces
Porque nada poderei te dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto

No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
E em minha voz, a tua voz

Não te quero ter
Porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero que só surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado

Eu deixarei,
tu irás e encostarás tua face em outra face,
teus dedos enlaçarão outros dedos,
e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face na face da noite
E ouvi sua fala amorosa

Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até a mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais do que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, dos céus, das aves, das estrelas
Serão a tua voz ausente,
A tua voz presente,
A tua voz serenizada".

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